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segunda-feira, 12 de abril de 2010

Maratona de Santiago - 2010

Santiago convive com extremos. Extrema limpeza nas ruas e grande "sujeira" no ar. Uma poluição bastante visível quando se vê a cidade por cima, do Cerro San Cristóbal, por exemplo. Mas uma cidade muito agradável, pelo menos nesses 3 dias que passei por lá. Não vi praticamente nenhum sinal do terremoto, apenas alguns viadutos um pouco desalinhados (mas liberados para trânsito normalmente) no caminho do Aeroporto e uma construção história fissurada. Se houve danos em Santiago ou eu não os vi, ou eles foram muito rápidos em tentar consertá-los. Apostaria na última hipótese, já que os chilenos devem ser o povo mais eficiente da América latina.

A prova em si também convive com extremos. A expo foi feita em um lugar amplo (Estación Mapocho), muito bem organizada (embora eu esperasse encontrar uma jaqueta da prova, o que não consegui), bastante divulgada em termos de propaganda e tendo mesmo o objetivo de ser uma das iniciativas de civismo para elevar o moral da população depois da tragédia. A meu ver, atingiram o objetivo. Foi recomendado aos corredores que corressem com as camisetas oficiais da prova: os de 10k, de vermelho. Os de meia, de branco. E os maratonistas, de azul. Essas três "ondas" de corredores foram separados em baias de tal forma que formasse uma enorme bandeira chilena.

 
Legal, não? A camiseta da prova é ótima, da Adidas, e além disso, o chip é nosso, não tem que devolver no final. Outro ponto bom foi o abastecimento da prova, praticamente em todos os postos havia gatorade (acho que só no primeiro não tinha) e água, havia distribuição de gel de carboidrato nos km 20 e 30 e na chegada uma farta distribuição de frutas, gatorade e água em um lounge que seria agradável se não parecesse um cenário de guerra, com corredores jogados e exaustos para todos os lados (normal, né?).

Um ponto ruim que é comum a todas as maratonas grandes do mundo: a distribuição em copinhos abertos. Mais ecológico, mas uma bosta para se beber correndo. Outros pontos ruins: em muitos trechos, especialmente após a separação dos meio-maratonistas e maratonistas, tínhamos que correr espremidos em uma faixa de trânsito, ou passando por rotatórias não-isoladas. Muito embora boa parte dos motoristas demonstrasse resignação ou apoio aos corredores, ainda que presos num trânsito infernal, sempre tem os apressadinhos, desesperados ou impacientes que queriam esgoelar o cara que inventou de fazerem uma maratona no meio do "caminho dele". Haja, buzina!!! Os carabineros, dentro do possível, foram muito eficientes, mas mesmo assim não é agradável correr do lado de um busão separado apenas por uma fila de cones.

Um outro ponto negativo: o piso, com pelo menos 50% da prova em concreto. As vias utilizadas eram de grande circulação e concretadas para maior resistência no dia-a-dia. Mas isso é evidentemente ruim pros corredores. A medalha é simples, direta e pequena. Não é das piores, mas também não faz jus a um evento grandioso.

Com tudo isso, falta falar da prova em si. Uma prova que parece lenta, mas não é tanto assim.  Largamos do centro, da grande praça La Moneda, onde formamos a bandeira do Chile, sob o tremor... de um tiro de canhão. Ufs! O início é em uma leve descida, até o 3º km, quando as coisas ficam bem planas. O primeiro posto de água no 5º km é vencido sem muito alarde, mas o próximo só seria no 10ºkm. Cautela para não desidratar no início da prova, que começou com um clima ótimo: friozinho leve, com sol para aquecer a alma. Depois desse início em descida, começamos a subir, vagarosa e imperceptivelmente. Passamos por algumas praças e eu disputava posição com dois pirulões empurrando carrinhos de bebê. Me senti a criança, já que tava ali respirando forte, fazendo força, enquanto os papais corriam tranquilamente e conversavam. Mas o biotipo de corredor de elite europeu (magro, alto e branco) me fizeram um pouco menos desconfortável. Pela altimetria da prova, ela sobe até o 22º km e depois desce. Na prática, as subidas são bastante discretas e imperceptíveis a olho nu, mas não a pulmão nu: você não se vê subindo, mas percebe na respiração mais ofegante. Exceto na região do 21 pro 22km, onde a subida é mais brabinha, lembrando o cavalo da USP. Nada excepcional, mas quebra o ritmo e cansa. Mas logo a seguir, vira-se uma esquina e começa-se a descer. E o corredor que não está com tosse e resfriado, desce a lenha ali. Os doentes tentam, mas têm ataques de tosse...

Com tosse ou não fiquei surpreso com minha performance. Saí descendo forte e firme, em um trecho arborizado, ao lado de um parque, já mais próximo às montanhas e com muita gente nas ruas a torcer. lembro que dos 3 longos programados nos treinos, eu quebrei em dois e matei um (fui fazer bike). Estou gordo, uns 2kg acima do meu melhor peso, embora estivesse conseguindo treinar rápido em curtas distâncias. Imaginei que a performance fosse uma lástima, mas não foi. A partir da marca da meia, onde passei com 1h56, corri o tempo inteiro com a esperança de baixar o meu 3h55min, e na verdade só perdi essa expectativa no 39ºkm, quando percebi que teria de acelerar um pouco mais o meu ritmo (para uns 5min/km), o que não seria nada absurdo em condições normais, mas era difícil naquele momento. Quando "desliguei" a motivação, a dor veio. Esses 3 últimos quilômetros eu fiz a uns 6min30/km, quebrado, só querendo terminar a prova dignamente. E fechei em dignas 3h57min56s, cruzando a linha de chegada quase surdo pelo hino chileno que se tocava nas caixas de som (civismo demais!) e em um resultado muito bom para o que esperava, ainda que pudesse ser até melhor. "Se" não estivesse resfriado, "se" não tivesse perdido tempo tossindo no 24ºkm (fiz um 6min30/km por causa disso), "se" não existissem "ses"...


Os colegas foram bem também. A Edith não alcançou a meta de 3h30, mas não deve ficar triste com um 3h39. O Alê, que cronometrou até a ida ao banheiro (uns 6 minutos no trono), fez 3h45, depois de passar os últimos 3 meses reclamando que não conseguia correr (bah!). O surpreendente Pedro Rossit estreou em Maratonas com um 4h15, excelente para faixa etária dele (depois ele teve cãimbras no metrô e desabou de maduro, mas faz parte, levantou rapidinho e foi embora) Ana Míriam terminou inteira, com 4h24, um pouco depois da Gi, que também veio forte no final (não sei, deve ter dado uns 4h20). Paulinho Trota fechou em 4h34, a Rose veio em 4h39, o Xile em 4h42 e o Orandi em 4h54. Na meia, o pessoal também veio bem. O Paulinho fechou em 1h21, o Paulo Elias em 1h39, a Déia Pardini em 1h59, o Doni em 2h05, Bota em 2h08, a Érica irmã do Edgar em 2h09, e o Cassiano, com o seus problemas de joelho e atuando também como fotógrafo, com 2h22. Não peguei o tempo do Henrique, da esposa e da Carol. A única baixa foi o Naga, com cãimbras no km 33, esperadas já que ele não treinou para a prova. Ele pediu massagem, mas ganhou só um chá de cadeira (de pé). Depois de 10 minutos parado, aí já tinha travado tudo e ele voltou de cômoda carona de ambulância, mas sem nenhum grave problema. E o Leal, no meio do tratamento da hérnia de disco, só trotou na prova, me dando a inédita oportunidade de ultrapassá-lo pela primeira vez na minha vida! Aliás, a minha, a da Ana Míriam, da Rosa, do Pedro, do Paulinho, e a torcida do Corinthians! Mas correr levemente 10km e caminhar mais uns 15km fazia parte do tratamento e parece ter funcionado, já que ele não reclamou de dores.
 
De qualquer modo, foi ótimo. E foi de Mizuno Nirvana.

6 comentários:

Julio Cordeiro disse...

Nishi
Parabéns pela prova e pelo tempo. Considero sub 4 horas um tempo excelente para amadores feito nós.
Pena que desisti de ir pra santiago.
Nos encontramos na maratona de sampa.
abraços Pernambucanos
Júlio Cordeiro

Ricardo Nishizaki disse...

Valeu, Julio!! Você ia gostar da prova, cara! Abração!!

Shigueo disse...

Considerando todos os "se"s, fazer um sub-4h foi bem bom, né? É o que gostaria de alcançar na minha 1a. Maratona.
Fiz minha 2a. Meia no mesmo dia e estou considerando agora uma preparação pra uma maratona.
Voltando à sua prova, chegou a encontrar o muro? Tirando as tosses e as dores no final, parece que foi vc dominou bem a prova. Mais treino teria feito muita diferença?

Bom, seja lá como for, parabéns! Qual é o próximo desafio?

Abs, Shigueo

Ricardo Nishizaki disse...

Foi bom Shigueo! O "muro" da maratona é algo meio mítico na minha cabeça. Muita gente sente isso aos 30, 32km, mas, para mim, ele não é nada mais do que uma bela "quebrada", que pode acontecer tanto nos 5km quanto em maratona. A questão é o ritmo imposto durante a prova, simplesmente. Quanto a treino, eu confesso que estou meio de "ressaca" neste ano, depois de um ano passado com 06 provas longas. Por isso não estou me importando muito com tempo, performance, treino mais para não me ferrar durante as provas. Por isso a surpresa do tempo nessa maratona. Não planejei, não esquentei, não foquei, mas também corri relaxado. As condições climáticas da prova estavam muito boas. Acho que foi isso o que me ajudou mesmo. Nem digo "mais treino", mas "melhores treinos" poderiam significar melhor performance, mas eu teria também que ter feito minha parte, emagrecido, etc. De qq. modo, foi ótimo! Valeu e vai fundo pra maratona, meu!!

Shigueo disse...

Por falar nisso, 2kg acim do peso é estar gordo? Par com isso né!!

Ricardo Nishizaki disse...

Haha, corre com um saco de feijão em cada mão pra sentir a diferença. ô se pesa, ainda mais em 42 km...