O Cruce de los Andes é uma daquelas provas que pouco a pouco começam a se consolidar no pensamento dos corredores brasileiros no que diz respeito a "corridas extremas mas em situações controladas". Basicamente trata-se de uma corrida de montanha que atravessa os Andes, sempre feita em dupla, e que se realiza em 3 etapas em um final de semana no começo do ano, no verão austral. É uma prova radical de corrida de montanha que atrai muitos brasileiros por ter a fama de ser bem organizada, próxima ao Brasil e que oferece uma situação de corrida que não achamos em terras tupiniquins. Além disso é organizada por corredores, o que em princípio garantiria condições de corrida, já que a idéia é a de que corredor conhece corredor e sabe o que um corredor extremo procura em uma prova.
O trajeto, em princípio, não se repete. Um hora se cruza da Argentina pro Chile pela região de Mendoza, outra se cruza pela Patagônia e por aí vai. Isso vai ao gosto dos organizadores, que têm por trás patrocinadores fortíssimos, como a Columbia e a Gatorade entre outros.
Além disso tudo, é uma prova da qual amigos participam constantemente. O Leal e o Nílton já têm 05 participações e nos últimos tempos sempre na elite (não há exatamente essa divisão, mas todos sabem que mbriga pra valer lá!), chegando entre os 30 primeiros. Embora os argentinos sejam fortíssimos nessas provas, os brasileiros não deixam a desejar, tanto que neste ano ganhamos na categora mista, com a Cris de Carvalho faturando. Também temos o Caco Alzugaray, o Zé Caputo entre outros brasileiros que deixam os gringos de cabelos em pé.
Feitas as apresentações, passemos ao Cruce deste ano, que merece resenha neste blog porque: a) no ano passado não dava pra resenhar porque não existia; b) foi um Cruce diferente, marcado justamente pela desorganização.
Desorganização? Sim. Como a prova se realiza em lugares ermos no meio dos Andes, a logística, logicamente, é muito complicada. Então, alguns problemas são muito compreensíveis. Chuva nos três dias, como ocorreu neste ano, é absolutamente incontrolável e segue a linha do corredor extremo, de "quanto pior, melhor". Trilhas estreitas, onde só passa uma pessoa de cada vez? Hum... talvez desse para evitar, mas isso depende muito do território escolhido e das próprias condições climáticas. Falo isso porque houve trechos no Cruce deste ano em que os corredores ficavam por 2 horas em fila para atravessar uma ponte (onde somente passavam duas pessoas por vez), criando um gargalo monstro. E isso não ocorreu uma vez só...
Mas o problema sério foi o fato de no acampamento do segundo dia, ter ocorrido problema com o transporte dos caminhões que trariam os contâineres (cada dupla tinha o seu, transportado a cada dia para cada acampamento, onde carregam equipamentos alimentação e outras coisas que porventura queiram usar na prova) e os víveres do próprio acampamento, forçando a organização a dividir o acampamento em dois. Um, o original, para onde 20% dos contâineres conseguiram ser transportados. Outro, montado às pressas no local onde os caminhões ficaram presos, a 5 km de distância. O pessoal acampou em um campo de esterco de vaca, com problemas sérios de abastecimento para quem ficou no acampamento originário.
Problemas climáticos acontecem e o que é impossível é, obviamente, impossível. Os caminhões não passam? Arranja-se uma solução de emergência, fazer o que? O problema desse problema foi o fato de que nem os organ izadores sabiam o que fazer. O Diretor da prova sumiu. Rolou rebelião, motim, um grupo acampado não sabia o que acontecia no outro grupo, muita gente não comeu nada, uma zona.
Há algo a ser repensado no Cruce. Que se aprendam com os erros, mas o mais importante a ser dito para os organizadores de uma prova extrema é: NÃO SE OMITAM! Porque ali já tá todo mundo estressado, sem saber o que fazer, a maior parte desorientado. Quando a organização some... aí é que o caldo entorna mesmo!
Mais da prova oficialmente
aqui. E um bom relato com fotos
aqui. Porque tudo o que eu tô dizendo eu só escutei e li, não vivi.