E lá estava eu para voltar a correr uma maratona no exterior, após um longo e tenebroso período de pandemia... Jersey City Marathon, uma prova escolhida pela data e pela logística. Até porque não existiam muitas referências sobre essa corrida, já que seria uma prova inaugural, pequena e local. A facilidade de deslocamento, já que era só um vôo até Nova York/Nova Jersei, a grande quantidade de hoteis disponíveis, a facilidade no transporte interno na cidade, a confiança em uma boa organização dos americanos, o perfil altimétrico plano e a possibilidade de visitar meu amigo Paulo Talarico, que mora a poucos quilômetros dali foram essenciais para a escolha dessa corrida. Mas, como disse, era uma prova estreante. Será que ia dar certo?
Em relação aos treinos, finalmente aquela maldita tendinite no calcâneo tinha passado. A tendinite já tinha cedido o suficiente para eu conseguir correr Curitiba, mas eu ainda senti um leve desconforto até o meio de janeiro, quando já estava fazendo a base. A partir daí, até mesmo o desconforto sumiu e o tendão voltou a parecer como novo, sem qualquer sensação de rigidez, desconforto ou mesmo dor, antes, durante ou depois dos treinos.
Porém, até pelo cuidado para não ter uma recidiva, os treinos foram um pouquinho menos intensos do que poderia se esperar para uma maratona. Além disso, não perdi tanto peso quanto queria, até mesmo porque a vida social com o filho (e os pais dos filhos da escolinha) andou meio intensa... a sensação geral era a de que eu estava preparado para fazer a prova sem maiores problemas, mas sem qualquer expectativa de realizar um tempo muito bom. O objetivo era simplesmente correr abaixo de 4horas e conhecer a prova.
A retirada do kit foi num local bem pequeno, perto da largada e da arena da prova, em Newport, um bairro às margens do Rio Hudson, perto do Holland Tunnel e, portanto, bem próximo a Nova York, com vários acessos de transporte público por trem e metrô. Por uma questão de preço, eu optei por ficar em Newark, um pouco mais distante dali, mas em uma região interessante, perto de lojas (um Outlet da Nike a 100m dali!), restaurantes e fácil acesso a outros locais. Bati um pouco de cabeça com o transporte público, mas acabei me entendendo (não é um treco totalmente unificado, o bilhete do PATH é diferente do bilhete do trem e por aí vai) e no dia da prova já tinha entendido tudo.
A temperatura tava excelente para correr mas o dia estava com chuva leve na largada. Antes da prova não teve muita alternativa, senão ficar embaixo de uma marquise até chegar a hora de ir para as baias e largada. Como foi uma prova pequena, em poucos minutos entrei na minha, já em cima da hora, mas sem muito problema. Teve discurso da Joan Benoit, madrinha da prova e... largou!!!
Eu colei na largada no marcador de ritmo de 4h00, mas rapidamente deu para perceber que eu tava sobrando naquele ritmo. Ultrapassei e passei a correr sozinho, procurando pelotõezinhos aqui e ali até para me proteger do vento. Mas tava fácil correr, mesmo com um ventinho aqui ou ali e o piso molhado, até porque o asfalto era excelente. Visualmente a prova tinha momentos interessantes, como passar perto da estátua da liberdade ou bairros bonitinhos, e momentos feios, perto de docas. A prova também tinha uma meia-maratona e a gente passava novamente na arena na chegada da meia, passando por alguns pontos por duas vezes, mas sem que as voltas fossem idênticas.
Vi só um outro brasileiro, com a camiseta da assessoria do André Savazoni, num desses trechos de ida e volta, ele mais ou menos perto do pelotão e marcadores de ritmo de 3h00. Eu, de minha parte, tinha alcançado e corrido um bom tempo com o pessoal das 3h50, mas a partir do 25ºkm, comecei a desgarrar um pouco, e seguir um pouco mais rápido que eles. Tava me sentindo bem e arrisquei, passei a fazer uns 10seg/km mais rápido que eles.
Lá pelo 38ºkm eu me sentia inacreditavelmente bem e comecei a pensar se não seria possível baixar de 3h45. Mas nesse trechinho final tinha algumas subidas e justamente em uma delas, acelerando, tive uma náusea rápida, vomitei a seco e perdi alguns segundos. Bastou baixar um pouquinho os bpms e tudo voltou ao normal, mas a ideia de acelerar forte nos kms finais e tentar pegar um 3h45 foi pro saco. Aí fui tocando até o final e fechei em 3h46m47, um tempo excelente para a preparação que tive, e uma performance bem linear (tirando o evento citado), já que tinha passado a meia para 1h53.
Gostei da prova? Gostei. Não é uma prova grande, não é uma major, mas é uma prova super bem organizadinha, algum apoio de público no percurso (mais do que qualquer prova brasileira, mas logicamente bem menos do que uma major) e que te proporciona a possibilidade de fazer um bom tempo, de correr rápido.