O objetivo do primeiro semestre! Uma "dívida" a ser paga com o Nilson Lima! Um desafio para um japonês que tem visto a sua performance depreciar a cada ano! E chegando na data da prova, um problema de saúde a ser gerenciado...
Pois é, correr a Maratona Nilson Lima era uma dívida que eu tinha com o próprio Nilson há 7 anos, desde que essa prova se iniciou, homenageando essa lenda das corridas de rua do Brasil. Quando essa história começou, acho que o Nilson ainda estava na casa das duzentas maratonas, o que é um absurdo. Mas agora, em 2024, considerando ainda que teve pandemia no meio, o Nilson já tinha 357 maratonas completadas, sem qualquer indicação de que vai diminuir o ritmo, mesmo chegando aos 70 anos. E eu reclamando do corpo com 48 anos...
O Nilson é isso aí, uma lenda das corridas de rua do Brasil, uma pessoa "normal" capaz de fazer coisas inacreditáveis, como correr 50 maratonas em 50 estados americanos, correr várias maratonas em sequencia sem diminuir o ritmo, e ter essa contabilidade toda sem contar as ultras que fez. Neste ano, o Nilson não iria correr a prova que tem o seu nome: primeiro porque a prova cresceu e o assédio e a presença requerida dele são muito grandes, é difícil dar atenção a tanta gente e tanta coisa, lembrando que o Nilson está em sua própria terra, Uberlândia. E segundo porque ele está preocupado com a obtenção de seu Green Number na Comrades. Precaução e canja de galinha para essa grande marca não fazem mal...
Eu, que não tenho Green Number a obter, que apenas caçava uma prova no primeiro semestre e que tinha que pagar essa "dívida" com o Nilson, resolvi fazê-lo neste ano. Não sei se acertei, mas esse primeiro semestre estava perfeito para treinar para uma prova difícil e quente. Afinal, a onda de calor do início de 2024 foi bem brava, aclimatação não deveria faltar. O problema seria suportar os treinos...
Só que o ciclo foi bem complicado. Desta vez até consegui manejar bem o peso, mas o problema foi a sequência de pequenas lesões atrapalhando tudo. Nos 3 primeiros meses do ano teve um eventode intoxicação alimentar e 3 lesões, nas panturrilhas esquerda e direita e ainda uma volta da pubalgia. Nada de grave, a pubalgia nunca zerou, mas também não foi um grande incômodo nos treinos, apenas atrapalhou após os treinos mais pesados. As lesões nas panturrilhas ajudaram na pubalgia, já que tive que tirar o pé dos treinos por duas vezes. Alivia a dor, mas não melhora a preparação.
Mas o pior aconteceu duas semanas antes da prova: febre, muitas dores no corpo, mal-estar generalizado, enjôos... aparentemente foi dengue, mas nunca saberei com certeza, já que não cheguei a ir a um hospital ou pronto atendimento para verificar se foi isso mesmo. Não fiz os exames. Apenas não consegui fazer um treino de polimento, que acabou sendo, na verdade, um repouso absoluto. Na segunda-feira da semana da prova consegui correr apenas 4km, suando como um condenado e ainda bem enjoado, e somente na quarta-feira eu consegui fazer um treino de 1 horinha me sentindo bem de verdade. Lógico que não puxei no treino, apenas corri progressivamente mais forte (e começando beeeeem levinho) para ir sentindo o corpo. Ok. Não fiz mais nada, querendo descansar o máximo para ver se o corpo recuperava e fui pra prova. Afinal, o problema não seria performance, mas capacidade de fazer uma prova longa com o corpo um pouco debilitado.
Saí bem levinho, mas quando a prova caiu em um avenidão com falso plano em descida (a Rondon), soltei o corpo. A subida da Getúlio Vargas, tão alertada por muitos, eu fiz bem tranquilamente, e tudo parecia bem, exceto um peso intestinal que eu talvez precisasse acertar, tava começando a incomodar...
Aí quando essa subida da Getulio Vargas termina, no km 18, seria hora de começar a correr com ritmo de de novo, né? Pois é, só que não consegui. As pernas pesaram, senti um incômodo no vasto medial da perna esquerda, eu tava estranho, meio lento, não estava me sentido cansado, mas simplesmente não rendia. Continuei no ritmo que dava, conversando com o Frank e a esposa (que estreava na maratona nessa prova, que escolha!) Quando retornamos para o Parque do Sabiá, acabei encontrando um banheiro de verdade exatamente no km 21 e deixei o meu incômodo intestinal para trás.
Acabei reencontrando um ritmo razoável depois disso, mas após sair do parque e pegar uma subida forte até a estrada e região dos condomínios na Zona Norte, a vaca foi pro brejo de vez. No km 28 comecei a andar e intercalar com corrida. A coisa estava difícil e a partir passei a ser passageiro da minha própria agonia, até porque esse trecho todo, embora plano no perfil altimétrico e no próprio GPS, na verdade era uma subida infinita, embora pouco inclinada, e com o sol na cara, castigando...
Eu me arrastei nesse anda-trota-anda-trota até o km 37 mais ou menos. Ali, na região do aeroporto, talvez por existir mais sombra e ser realmente um trecho plano, comecei achar chato esse negócio de andar e correr e consegui voltar a correr/trotar o tempo inteiro, ainda que em um ritmo beeem leve, na casa de 6m45/km. E assim segui até o final... os últimos 2km eram em descida (a mesma descida que me quebrou antes do km 28), mas eu simplesmente não conseguia correr mais rápido. Foi um trote dolorido em descida, especialmente com a perna esquerda berrando... mas terminei, com 4h30m no relógio e 4h32 no tempo oficial. Sei lá a razão da diferença, mas não faz diferença real nenhuma...
Após finalizar, sofrer um pouco e depois ser muito bem recebido na tenda VIP do Nilson (aliás, como todo o tratamento que me foi dispensado!!), eu consegui me recuperar com cerveja, coca-cola, isotônico, comida e muito papo bom com o pessoal!! Prova desafiadora! SIM! E desafio cumprido!! Aliás, uma coisa que eu só percebi depois, quando voltei pra casa: essa foi a minha prova de nº 200! Um número redondo, comemorativo para uma prova para se comemorar mesmo!
Aliás, falando em comemorar, depois ainda teve churrasco na casa do Morgado, mas aí é outra história...