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terça-feira, 5 de abril de 2011

Trilhos do Almourol - 39k

Trilhos do Almourol. 39km. Achei que seria uma leve prova rural, com alguns percalços mas sem um grande nível de dificuldade Enganei-me profundamente, foi das provas mais complexas que eu já fiz, até mesmo porque meu nível de preparação física atual não é o ideal. Além disso, os dois dias em que me pus a fazer turismo no Porto não foram exatamente o que se recomenda como prévia de uma prova longa.

Após o turismo portense, peguei um trem ou comboio, como eles dizem em Portugal e fui até a cidade de Entroncamento, a 2 horas de lá. Uma cidade que é o que é por conta das ferrovias, aparentemente. Pequena, cerca de 20 mil habitantes, sem grandes atrativos na cidade em si, mas que é um importante hub ferroviário no centro de Portugal. É lá que se sedia o CLAC, que organiza a prova, e é lá onde peguei o meu kit no sábado, no Pavilhão Municipal de Desportos, um bom ginásio. A prova, apesar de muito simples e pequena, contou com patrocínio da Asics e algumas outras empresas da região e teve até uma feirinha. Com o ginásio, a infraestrutura da organização foi bastante facilitada, apesar de um clima de festa entre amigos, distante dos megaeventos esportivos que por aí grassam.
Às 08h30 da manhã do domingo partiriam os ônibus (ou autocarros como eles dizem em Portugal) para a largada em Aldeia do Mato, uma vilazinha pequenina. Para a prova maior, dos trilhos, constavam 242 inscritos, mas não sei quantos efetivamente largaram. Sei que fomos em 5 ônibus. Ao mesmo tempo, o pessoal dos Mini-Trilhos (21 km) ia para outro lugar, já no meio do caminho de nossa prova de 39 km, o mesmo acontecendo com os caminhantes. 


Era um clima diferente, de camaradagem, parecia que todos ali se conheciam. Eu encontrei alguns laranjas no caminho, da equipe Run 4 Fun de Lisboa (que nada tem que ver com qualquer equipe homônima aqui do Brasil!) que estavam lá como eu, para participar, ver qual a encrenca nos esperava e tirar algumas fotos da paisagem. Todos maratonistas já experimentados, à busca de outras emoções na corrida.

Esquerda pra direita: João Ralha, Teodoro Trindade, Luisa Ralha e Miguel San-Payo, os Run4Fun.
No Porto, nos dias de passeio, estava um clima até quente para correr, com muito sol e céu azul. Mas na hora da prova estava bastante frio, especialmente de manhã. Uns 08 graus, melhor para correr. Como não choveu, menos problemas com poças de barro e lama. Meu tornozelo torcido agradecia. 

Início da prova, já com uma subidinha pra aquecer o corpo
Um contratempo antes da largada foi meu Garmin que simplesmente se recusou a se ligar no hotel, quando me vestia para a prova. O mais intrigante é que chegando em casa, no Brasil, ligou de primeira... mas esse não foi o único. O outro problema foi mais grave e me ocorreu logo no começo de prova. O cordão do meu tênis direito se rompeu. Os tênis da Salomon usam um sistema de amarração muito prático, onde você precisa apenas puxar o cordão e prendê-lo na posição, com uma presilha. O problema é que quando ele se rompe, já era. Foi o que aconteceu comigo com uns 2, 3 quilômetros de prova. Sem o cadarço, o tênis ficou totalmente solto no pé e sem nenhuma estabilidade. Torcia para que o terreno não fosse muito ruim, senão estaria fodido.

Pois então, rapidamente percebi que estava fodido. O começo da prova foi bastante duro, mas ali, ao menos, tínhamos energia de sobra. Mesmo assim, passei no primeiro posto de abastecimento, no 5º km, com quase 40 minutos. Um sobe e desce danado, em trilhas de single track, mato baixo, mato alto, pedras. Só não tinha lama, mas o piso era sempre irregular. O meu tornozelo esquerdo torcido não gostava muito. Ele está num estágio em que não dói para nada quando corro, exceto se piso numa superfície torta lateralmente. E para tristeza do meu tornozelo, acho que durante a corrida toda não tivemos mais do que uns 3 trechos de piso liso lateralmente...


As paisagens, no entanto, eram lindas. E a corrida foi muito variada, dentro dessa nossa vida "no meio do mato". Teve até trecho no asfalto!!

Abastecimento no km 14, num raro trecho asfaltado
Aqui, a ponte estava ótima, mas haviam outras bem mais precárias no caminho...

Apesar de boa sinalização, o negócio de correr o tempo inteiro olhando para onde pisa, ainda mais com um tênis frouxo num pé e um outro torcido, me fizeram perder o caminho algumas vezes. A pior foi um pouco antes desse abastecimento, quando segui reto numa trilha e levei dois coitados comigo... parei para beber água e eles foram. Como vínhamos num grupo razoável, esperei os outros que simplesmente não vieram. Aí percebi que há muito não via as fitinhas identificadoras e voltei. E achei o caminho à esquerda, numa saidinha  em descida logo depois de uma pinguelinha de madeira... quase 2 km a mais entre idas e vindas!

Não tinha passado nem metade da prova e eu já estava exausto. As subidas eram íngremes, e me doíam as panturrilhas, mas as descidas eram piores, também porque sempre fui cagão em descidas, ainda mais com um tênis solto. Mas o que fazer? A prova teve momentos como um mini-rapel, numa descida de barranco onde havia uma corda para que descêssemos na horizontal, ou um belo trecho de lama em que para nos poupar da sujeira, os organizadores colocaram umas plataformas de step... duro era ficar de pé naquele treco liso cheio de lama!

Quando já duvidava da minha capacidade de terminar a prova no tempo-limite, eis que surge o glorioso Castelo do Almourol, belíssimo, em uma ilhota no meio do Tejo, com alguns visitantes de caiaque, outros em trajes civis, não entendendo direito de onde vinham aqueles seres sujos saídos do meio do mato.


Mas eu me arrastava, morto... o pessoal que ali montara um posto de abastecimento, assegurava que eram só mais 13 km a percorrer. E que o pior, o trecho mais técnico, já tinha passado. Era verdade. O problema é que eu não tinha mais pernas nem para correr no plano. E apesar do pior já ter passado, de vez em quando havia alguma "diversão" no caminho. 

Tá vendo os pontinhos pretos lá em cima? O de azul, tranquilo, é da organização da prova.
Fora os outros momentos em que me perdi na prova... pelo menos foi rápido e num deles, no meio de uma cidade (acho que Constància), os próprios organizadores me viram e chamaram a minha atenção para o meu erro. Mas o momento mais complicado foi logo depois do último abastecimento, quando finalmente o corredor vassoura da organização trouxe o último colocado, Mario Lima. Parti rápido do posto tentando ganhar alguma coisinha mínima de tempo, mas quando errei mais um caminho, desconcentrado tentando correr com algum ritmo, me vi em último lugar na prova! Nunca fui lá um grande corredor, mas em último? 

Já estava conformado, pensando no tempo que tinha "perdido" tirando fotos, quando o Mario errou um caminho na descida (talvez pelo mesmo motivo que eu). Percebi e avisei o Vassoura, que o chamou e ficou a esperá-lo. Ganhei um último fôlego e corri, manquitolei, fui de algum jeito tentando me arrastar o mais rápido... até alcancei o antepenúltimo, Antonio Franco, mas como já não via o Mario atrás de mim, fui seguindo-o sem muita pressa (ele também parecia estar sem pressa naquele momento...) até chegarmos, fi-nal-men-te! 6h17m59s no tempo oficial.

Penúltimo... puxa... conformei-me um pouco quando soube que o Antonio Franco, era um maratonista muito melhor do que eu, na faixa de 3h35m, assim como seu colega, ante-antepenultimo, Carlos Maia, ambos do Porto.

Da esquerda pra direita: Mario Lima, o "Vassoura" da organização, Antonio Franco, Carlos Maia e eu.
Mas essa é a segunda prova na Europa onde não ganho uma medalha. Aqui o prêmio pela participação era uma... cumbuca! Simpático e diferente. Parabéns para o CLAC, para o Brito e pra todos da organização. Uma prova dura, mas longe de ser impossível. E bela, recomendo-a para quem gosta de corridas longas, mas não-extenuantes (apesar de eu ter ficado extenuado!)


8 comentários:

Jorge Cerqueira disse...

---------\\\\|/---------
--------(@@)-------
-o--oO--(_)--Ooo-
Nishi, legal essa prova, vendo as fotos vi que foi adrenalina pura, cara eu vi em alguns blogs de corredores de portugal que essa prova foi de 40K e vc disse que foi de 39k veja nos links abaixo de alguns corredores de Portugal que correram essa prova:

Blog do Luis
http://motamontes.blogspot.com/2011/04/trilhos-do-almourol-2011.html

Blog do Joaquim Adelino
http://joaquimadelino.blogspot.com/

Blog do Antonio Almeida
http://palavrasdecorredor.blogspot.com/2011/04/trilhos-do-almourol-2011fotos.html

Será que esse tênis que vc utilizou é o mesmo que o Dean Karnazes usou em SP quando corri 24 horas com ele, pois ao meu ver deve ter sido o mesmo tênis vc precisa conhecer o Cadarço Elástico que não arrebenta nunca e vale a pena correr com ele. Parabéns campeão..

Bons treinos,

Jorge Cerqueira
www.jmaratona.com

Ricardo Nishizaki disse...

O pessoal deve ter registrado no Garmin, mas a cumbuquinha de finisher tá com 39km. Mas eu fiz uns 42, de tanto que me perdi. A prova é dura, mas não é a pior que eu fiz, só que eu acho que não tava num bom dia. E o tênis... não, não é o do Dean, é do concorrente dele... rs... o Dean Karnazes é North Face e o meu era Salomon. Ótimo tênis, já passou por várias porradas, uma hora acaba. Não dá trocar o cadarço, ele é específico e especial do tênis, por isso é que fiquei na mão...

E disse...

oi, ricardo!

parabéns!
pela conquista de mais um desafio
e... pelo relato maravilhoso!!!!!
assim como o jorge, li alguns relatos sobre essa prova, mas o seu está perfeito: rico em detalhes e fotos!
só agora, lendo seu post, tive uma ideia do quanto essa prova foi difícil!

nessas provas em trilhas, tenho pavor de me perder e de torcer o pé rssssss

amei a "medalha"!!!
muito original!

fiquei morrendo de vontade de ter corrido essa prova!

parabéns!

João Ralha disse...

Olá Ricardo,

Parabéns pelo esforço e pelo excelente relato. Eu também cheguei quase "morto", mas foi bem engraçado.

O meu e-mail é jralha59@gmail.com .Tenho uma série de fotos para te mandar

Runabraços

BritoRunner disse...

Olá Ricardo

Adorei o relato, foi pena esse pé fu****

Como se diz por cá, os "Trilhos do Almourol" foram do Catano, do Camandro e do Caneco.

Saudações trailianas

mariolima52 disse...

Ricardo

Fartei-me de rir com este teu texto. Lá te safaste no último km de seres o último, mas aquele meu engano deitou tudo a perder.

:))

Também nunca tinha ficado nesse lugar, após vinte anos de corrida aconteceu, para tudo há uma primeira vez não é?

Mas também fui tirando fotos pelo caminho e não sabia que os que estavam atrás de mim tinham desistido (foram 15 no total).

Foi uma prova gira e foi bom aquele último "despique" entre nós (amor com amor se paga, pois quem te chamou mais o "vassoura" naquele engano fui eu).

Ficou a nossa foto final para a posteridade e todos os que ficaram no fim foram todos os que tiraram fotos pelo caminho. Ou se corre ou se tiram fotos e foi bom termos feito a última opção. Corridas há muitas, boas fotos dessas mesmas corridas há poucas.

Espero que já esteja bom do pé e até uma próxima.

Abraços

Ricardo Nishizaki disse...

Salve Mario!!! Prova divertidíssima, hein? Lendo o seu blog descobri também você é melhor corredor do que eu! Mas independentemente de colocação o que vale é que essa corrida ficou registrada como daquelas que a gente sempre vai poder contar como aventura pros colegas!! O pessoal aqui do Brasil me perguntou como é que eu tinha ficado em penúltimo. Resposta simples: os portugueses correm demais!!!

BritoRunner disse...

Olá Ricardo este ano "Os Trilhos do Almourol" serão a 1 de Abril.
As inscrições já se encontram abertas, esperamos por representantes do Brazil e arredores...
Este ano o percurso terá novidades e mais uma vez será do Camandro, do Catano e do Caneco.

Mais informações em www.clac.pt