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domingo, 26 de fevereiro de 2012

Parlamentarismo maratonal

2h08 minutos em uma maratona é um tempo e tanto. Garante vitória ao atleta que consegui-lo em qualquer prova no Brasil e na grande maioria das provas do mundo. Talvez só as majors e algumas provas reconhecidamente rápidas, como Roterdã, fiquem de fora dessa lista. Mais ainda, garante, com certeza absoluta, que esse atleta se qualificou para representar o país nas Olimpíadas, exceto em relação ao Quênia e à Etiópia. 

Falar que 02h08 é um fracasso, assim, pode até soar exagerado. Mas de um Pelé da maratona, de um gênio absoluto, não conseguir o máximo acaba sendo um fracasso. Dele, se espera sempre muito mais do que o que qualquer craque é capaz de fazer. Ainda mais quando esse gênio é etíope e, justamente por isso, não conseguirá se classificar como um dos três a representar seu país nas Olimpíadas.

02h08 foi seu pior tempo em maratonas completadas. Ele havia desistido de algumas no meio da prova, antes. Mas tinha um 2h06 como pior marca até então. 02h08 não é nada para um Pelé. Equivale a um gol de rebote, de canela, em um jogo no meio da semana de um campeonato qualquer, e quando o resultado do jogo já estava definido. Uma marca memorável para muitos. Para ele, no entanto, um dos gols menos bonitos. E, devido à idade, talvez a última chance de mostrar que ainda é rei. Porque dele se esperava um gol de bicicleta, que não veio mais. Um gol de placa, interrompido por um zagueiro mais rápido.

Um quarto lugar, honroso para muitos, foi um resultado terrível para ele. E ele nem perdeu para o novo jeito que a garotada passou a fazer, saindo como uns desesperados pra quebrar todo mundo e depois administrando a vantagem, positivando a prova na cara-dura, ou mudando o ritmo de forma amalucada no meio da prova

Não. Ele fez do jeito que gosta. Saiu na frente e ficou na frente o tempo inteiro, no ritmo constante e forte de sempre. Era só manter o ritmo, equilibrando as metades da prova. Mas no final, algo falhou. E um cara vindo de trás o ultrapassou impiedosamente. E depois outro e mais outro. O ritmo caiu e ele positivou contra a vontade, extenuado. Talvez tenha sido a falha na hora de pegar o repositor no posto do km 30 que tirou suas energias. Desconcentrou mesmo, ele até parou e pensou em voltar. Mas não valia a pena, um dos seus súditos parecia querer destroná-lo e ele assumiu o risco. E o erro, porque no final das contas, esse temido súdito acabou se mostrando muito mais quebradiço do que ele próprio.

Enfim, o fim. Com um brilho que foi se apagando aos poucos. Um raio de luz ainda forte, mas que não passa de uma lampadinha para quem já foi sol. Melancólico, talvez. Respeitável certamente. Mas triste, não pelo que não fez, mas sim pelo que representou. Não há mais majestade e nem império. Hoje os donos do poder são certamente mais brilhantes, mas trocam o cetro e a coroa tão rapidamente quanto correm. O último imperador se foi e hoje a maratona é parlamentarista

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